sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Por que não existe o dia da consciência branca?

Ao invés de ficar se perguntando "Por que não existe o dia da consciência branca?", que tal responder às seguintes questões:

- Por que, numa pesquisa realizada pela USP, 97% das pessoas afirmaram não ser racistas, mas 98% afirmaram conhecer ou conviver com racistas?

- Por que 63% dos desempregados hoje no Brasil são pretos ou pardos (14% da população negra, contra 9% do desemprego dos brancos)?

- Por que, segundo pesquisa do PNAD, pardos e pretos ganham menos, ocupam vagas piores e têm menos estabilidade no emprego?

- Por que o rendimento médio dos negros é R$ 1.531, enquanto o dos brancos é R$ 2.757?

- Por que os negros são 66% dos empregados domésticos, mas apenas 33% dos empregadores?

Na minha classe de ensino médio, por exemplo, numa das melhores escolas particulares da cidade, não havia nenhum negro. Cheguei na faculdade, uma das melhores do país, e o cenário não era nada diferente. Não era muito exigir de mim que me perguntasse o porquê. Foi indolor e não custou absolutamente nada.

Em 1900, Joaquim Nabuco já havia adiantado: "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil." Esse racismo todo é a maior prova de que seu prognóstico era exato. O dia de hoje é uma oportunidade para criar consciência disso.

Onde Estão os Lamarckistas?

Sério, estou sentindo falta dos lamarckistas.
Vejam bem, hoje em dia temos gente convicta de que:

- a Terra é plana;
- a evolução das espécies não existe;
- as vacinas não funcionam e causam autismo;
- a eugenia melhora a humanidade;
- o aquecimento global antrópico é invenção;
- o horóscopo funciona;
- o mercado capitalista deixado livre se auto-regula e todo mundo sai ganhando;
- deixar as leis penais mais rigorosas e prender mais combate a violência;
- a austeridade remedia crises financeiras;
- a homossexualidade, a transexualidade e outras condições sexuais são aprendidas;
- a proibição das drogas gera menos violência do que a sua liberação e controle;
- as mulheres pobres têm filhos de propósito para receber Bolsa Família;
- os ricos são ricos porque trabalharam duro;
- o nazismo é de esquerda:
- a ditadura militar foi necessária para evitar que o Brasil se tornasse comunista;
- a reforma trabalhista é boa para o trabalhador;
- existe um rombo enorme na Previdência e é necessária a reforma;
- os EUA querem levar a democracia para o mundo.

E essas são só algumas das ideias que as pessoas perderam completamente a vergonha de defender à luz do dia.

Mas e os defensores de Lamarck? Onde estão com suas teorias do uso e desuso e da transmissão dos caracteres adquiridos, tão válidas quanto qualquer uma dessas mencionadas acima? Será que estão esticando o pescoço para ver se crescem? Ou, talvez, se afogando para ver se criam guelras? Alguém sabe deles?

Histórias Edificantes do Capitalismo e da Meritocracia

Conte aqui a sua história edificante e motivacional sobre a meritocracia no capitalismo. Aí vai a minha, baseada em fatos reais:

Eu tenho um tio que é um exemplo. Ele começou muito jovem, como peão de fábrica mesmo, numa indústria de Tatuí. Ele era muito esforçado e dedicado, desses que trabalha duro, não reclama nem faz cara feia para nada. Vestia a camisa da empresa e dava o sangue por ela. Ficava além do horário, nem queria saber de receber horas extras, fazia força além dos limites legais, ia trabalhar por vezes aos domingos e até durante as férias, segundo ele, para fiscalizar o trabalho do seu substituto, já que só ele conseguia deixar o almoxarifado organizado como deveria. Um funcionário exemplar mesmo, perfeito. Nunca foi alvo de nenhuma reclamação de chefe ou de cobrança por parte de alguém, tendo em vista sua rara e admirável pró-atividade nata. O tempo foi passando, passando, e passou tanto que ele se aposentou como peão e continuou trabalhando lá. 

Há alguns anos a empresa o mandou embora, depois de mais de 50 anos de firma, e hoje ele recebe dois salários mínimos de aposentadoria. Fim.

Sobre a Voz de Pabblo Vittar

Deixa eu ver se entendi bem: gente que ouve sertanejo universitário está criticando Pabllo Vittar porque a qualidade da música não é boa? É sério isso? Vejam bem, eu disse sertanejo universitário, não disse música erudita, não disse jazz, não disse Bossa Nova, nem sequer MPB ou rock.
Eu mesmo acho bem mais agradável ouvir um bebê faminto se esgoelando por horas a fio enquanto com uma mão risca um prato usando um garfo e, com outra, aperta o rabo de uma gata no cio do que escutar um minuto de Luan Santana, Michel Teló, Gusttavo Lima ou QUALQUER porra dessas que faça sucesso hoje em dia. E olha que eu não sou nada fã do som de bebê berrando, prato sendo riscado e gata no cio.
É bom saber que existe ainda algum resquício de senso crítico nessas pessoas, mas é sintomático e vergonhoso que ele sempre só apareça para legitimar algum tipo de preconceito ou discurso de ódio.

O Ódio à Maria do Rosário

Eu nunca entendi muito bem o ódio que a direita tem da deputada Maria do Rosário. Supostamente ela seria "defensora de bandidos".

Daí eu descobri que ela propôs diversos projetos de lei, alguns dos quais foram aprovados e viraram lei, como, por exemplo:

- uma que aumentou a pena para crimes de lesão corporal e homicídio contra policiais;
- outra que definiu a exploração sexual de crianças como crime hediondo;
- uma que tornou crime hediondo o assassinato de mulheres motivado por questões de gênero; e
- outra que garantiu a escuta protegida para crianças vítimas ou testemunhas de violência.

Além disso, ela ainda foi relatora da CPI que investigou as redes de exploração da prostituição infantil no Brasil.

Percebam que tudo isso, de uma maneira ou de outra, dificultou a vida dos bandidos.

Ou seja, agora eu entendo menos ainda o porquê do ódio contra essa mulher, uma das poucas parlamentares que sempre faz o que pode para ficar do lado do povo. E desde o início eu deveria saber que essa raiva só poderia ser mais um devaneio da nossa direita doentia.

Liberalismo da Eugenia e do Higienismo

O Instituto Mises Brasil, principal think tank liberal do país, publicou no dia 19 de dezembro um artigo relacionando a miscigenação dos povos com o desenvolvimento dos países. Sim, é isso mesmo.

Para eles, quanto mais homogêneo, ou seja, puro, for o povo, menos desigual, como os países nórdicos. Quanto mais miscigenado e multicultural, como o Brasil, menos desenvolvido e mais desigual.

Isso foi ontem, não na década de 30. Qualquer semelhança com o nazi-fascismo não é, de forma nenhuma, mera coincidência.

Quando eu digo que o problema dos liberais brasileiros não é (só) falta de inteligência, mas de caráter, eu falo sério.

No fim eles perceberam que o texto, até mesmo para os padrões deles, era espanta-freguês e apagaram o post. Mas isso não significa que eles deixaram de pensar assim. Apenas voltaram a querer esconder.

Sobre Star Wars - Os Últimos Jedi

Imagina a tristeza, o desespero, o terror dos radicais de direita que gostam de Star Wars assistindo ao novo filme da franquia! Que delícia!

O filme é completamente explícito em sua crítica anti-capitalista. Esses nerds-geeks reacionários têm três opções bem claras: (i) tocam a vida como se nada tivesse acontecido, caso forem estúpidos o suficiente para não perceberem que, se aquele universo fosse real, eles estariam do lado do Império, da Primeira Ordem, dos Siths e de tudo que ali representa o autoritarismo, a negação da república democrática e, portanto, o mau; (ii) choramingam e fazem um “motim virtual” para tirar esse novo filme do cânone de Star Wars, como muitos estão fazendo (como se os filmes anteriores já não tivessem essa pegada crítica); ou (iii) percebem a vergonha que eles são e ficam quietinhos para não dar bandeira.

Em todas as hipóteses, eu me regozijo observando!