quarta-feira, 21 de maio de 2014

Não ser um idiota útil cansa


Não ser um idiota útil cansa demais. Às vezes eu sinto alguma inveja dessas pessoas que simplesmente reproduzem qualquer discurso de ódio sem se preocupar com a fonte, sem averiguar a veracidade da informação, sem refletir sobre qual o interesse envolvido na disseminação daquela informação. É só acreditar e repassar, sem nenhuma preocupação com honestidade intelectual nem nada disso. Nenhum esforço. Mas eu não conseguiria ficar bem comigo mesmo se procedesse dessa forma. Todavia, infelizmente, vejo que faço parte de uma minoria.

É cada vez mais frustrante tentar conversar sobre política ou sobre qualquer questão social por aqui. O debate é muito despolitizado, a educação política e a noção de cidadania que se tem é absurdamente rasteira. Chega a ser um crime contra o nosso povo o nível de ignorância que a média da população apresenta a respeito de questões políticas, e não estou falando apenas dos mais pobres e sem estudo, que de fato não têm grandes oportunidades de conhecer bem sobre esses assuntos.

O que eu vejo acontecer muito é que temos uma pessoa que olha o mundo e vê que há muita coisa errada, políticos corruptos, pessoas desonestas por toda a parte, crimes acontecendo a todo instante, gente mal educada e etc. Essa pessoa enxerga isso tudo e fica revoltada com a situação, querendo mudanças. Então, ela, bombardeada pela alienação torrencial da mídia, que se soma à falta de educação crítica e crônica, começa a colocar a culpa de todos os males no que a mídia escolheu pra ela como sendo os inimigos: sindicatos, grevistas, manifestantes, "maconheiros" da USP, sem terra, sem teto, direitos humanos, estatuto da criança e do adolescente, direitos trabalhistas, leis e garantias penais, drogas, índios, ambientalistas, militantes dos movimentos negros, LGBT, feministas, ateus, e etc. 

Ao mesmo tempo, começa a achar que o Bolsonaro, a Sheherazade e o Joaquim Barbosa é que são os heróis, por supostamente falarem “corajosamente” o que pensam e “quererem mudar” alguma coisa, sem se dar conta de que na verdade essas figuras são representantes de tudo o que há de mais covarde e atrasado, sendo os que puxam o Brasil para a "vanguarda" do atraso, militando, na verdade, contra uma sociedade verdadeiramente justa e democrática.

Sei que há pessoas que são conservadoras instruídas e convictas, que não vêem qualquer problema na concentração de renda e na desigualdade social, que odeiam qualquer ato de rebeldia contra os desmandos do capitalismo desregulado e selvagem, que acham que pobre é pobre sempre porque se acomoda, que a ditadura militar foi excelente, que direitos trabalhistas e previdenciários devem ser abolidos, e etc. O problema não são esses, até porque eles são minoria, numericamente não causam qualquer temor de retrocesso. O real problema, na verdade, são esses que por falta de educação crítica, por ignorância ou simplesmente por preguiça de pesquisar e pensar mais detidamente sobre os assuntos políticos, limitam-se apenas a, como robôs, reproduzir um discurso fácil e maniqueísta que já lhes vem pronto via Jornal Nacional, Datena, TV Revolta, Veja, e etc., como verdadeiros idiotas úteis.

Sério, quantas pessoas que se dizem contra os direitos humanos sabem, mesmo que por cima, o que de fato sejam direitos humanos, como surgiram e pra que servem? Quantos dos que criticam o Estatuto da Criança e do Adolescente já leram ao menos um capítulo dessa lei? Quantos que acham que o socialismo é uma espécie de encarnação do mal sabem ao menos definir o que é socialismo, conforme preconizado por Marx? Quantos dos que falam que o Bolsa Família gera vagabundos já leu alguma estatística sobre os beneficiários, sobre o número deles que abandonou voluntariamente o benefício, e sobre a revolução social que o benefício, que é exemplo mundial no combate à pobreza, tem causado nas regiões mais pobres do país? Quantos dos que querem jogar os condenados do “mensalão” na fogueira, de fato leram algum especialista sério falando sobre as condenações (porque o “mensalão” do PSDB nem sequer sabe que existe)? Quantos se dizem contra a Copa (não que o modo como foi organizada não mereça críticas) sem ter nem ideia do porquê, acreditando nas inúmeras falácias que se divulgam por aí sobre o evento? Quantos falam que Cuba é uma ditadura sem nunca ter lido nada a respeito da política na ilha?

O que pouca gente parece ver é o seguinte: quem detém o monopólio da informação e da opinião pública são empresas privadas poderosas, que fazem de tudo para não permitir, por si só, que a grande massa tenha acesso a informações e opiniões que lhes contrarie os interesses. Por isso dá muito mais trabalho ter pensamento crítico de verdade, não um pensamento "crítico" já pronto, imbecilizado, feito pra vender e pra manter as coisas exatamente como estão, como o que diz Bolsonaro, Sheherazade, Datena e companhia.

Isso de certa forma explica por que muita gente não gosta de acadêmicos das ciências humanas (embora muitos deles também se formaram para defender interesses dos poderosos), porque eles, em geral, são formados exatamente para fazer o que os demais têm preguiça, que é olhar para o mundo, refletir de forma densa sobre ele e propor soluções para os problemas (exceto os formados em Direito, que são na maioria das vezes formados justamente para manter as coisas como estão). 

Afinal, ninguém contraria apaixonadamente o parecer de um oftalmologista sobre um problema de visão sem antes estudar minimamente o assunto, mas, de outro lado, discute cada afirmação dita por um sociológico ou um especialista em direitos humanos sobre algum problema social, mesmo sem sequer saber o que foi dito. É sempre mais fácil agir como um colunista da Veja, que nunca fala coisa com coisa, do que pesquisar e refletir. 

Não estou dizendo que todos devemos ser especializados em todos os assuntos, mas seria de bom tom ao menos conferir a informação e pesquisar sobre o que se está falando antes de soltar qualquer besteira em caixa alta. Ok, concordo que algumas vezes a pessoa é limitada ou mentirosa mesmo, mas na maioria delas é preguiça pura. Em boa medida, isso é reflexo da política educacional da ditadura, que excluiu o senso crítico da escola, resultando em sucessivas gerações de zumbis repetidores raivosos. É triste... E cansa. 

Enfim, se você tem uma revolta dentro de si e quer alguma mudança, a atitude mais revolucionária que você pode fazer é se informar bem, pesquisar e, refletir, para só depois tomar partido.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Marxismo cultural


Esse marxismo cultural é que está acabando com o Brasil mesmo!

Quantas pessoas, de tanto assistirem aos jornais e novelas da Globo, da Record e do SBT diariamente, por horas a fio, acabam se revoltando com a exploração extrema do capital, pegando em armas e quebrando bancos para promover a revolução comunista?

Quantos espectadores que acabaram de assistir ao Homem Aranha, ao Homem de Ferro e ao Capitão América passam a falar apenas em mais valia, materialismo histórico e a pregar a emancipação dos trabalhadores?

Quantos milhões de pacientes não lêem nos consultórios as edições semanais da Veja, da Caras e da Boa Forma e imediatamente compram passagem para Cuba a fim de treinar táticas de guerrilha?

Quantos, após ler Paulo Coelho, Dan Brown e Augusto Cury e verem exposições do Romero Brito, não foram a Brasília tentar repetir, desta vez com sucesso, uma nova Comuna de Paris?

Quantas pessoas não vão ao teatro assistir a um stad up do Danilo Gentili ou a uma peça do Arnaldo Jabor ou do Jô Soares e, na volta, acabam se vendo obrigados a passar comprar uma camiseta do Che Guevara e a se filiar ao partido comunista?

Quanta gente, de tanto ouvir as músicas do Michel Teló, do Thiaguinho, ou do Mc Guimê, verdadeiros gritos de guerra bolcheviques, não se sentem no dever de, com outros trabalhadores, impor à força a socialização dos meios de produção?

Quantas pessoas não saem de casa e se vêem inundadas em meio a propagandas e símbolos do comunismo soviético, como a Coca Cola, o Mc Donald’s e a Starbucks, em uma conclamação direta ao leninismo?

Quantas pessoas não têm como ídolos e exemplos de vida Silvio Santos, Antônio Ermírio de Moraes e Roberto Justus, conhecidos agitadores subversivos ao sistema de dominação econômica e social?

A resposta a todas essas perguntas é, invariavelmente: milhões e milhões, quiçá bilhões, ou mesmo trilhões, de pessoas.

É, a direita precisa reagir com urgência, pois a esquerda possui mesmo o monopólio cultural de nosso tempo. Mais um pouco e estarão conseguindo construir uma sociedade mais justa e igualitária, o que é inaceitável.

Conservadores do mundo, uni-vos!