Eu não sou de ficar triste facilmente, mas quando me deparo com certos tipos de "evolução" no pensamento das pessoas, às vezes é inevitável. E é muito comum com gente da minha idade. Dizem que se uma pessoa não é socialista até os 30 anos ela não tem coração, e se ela ainda é socialista aos 50 ela não tem cabeça. Eu não poderia discordar mais dessa frase, mas ela indica algo que realmente acontece no mundo real. As pessoas, conforme ficam mais velhas, acham que ficam mais maduras e se tornam conservadoras. E ficam conservadoras porque, supostamente, elas têm mais o que conservar, em geral, bens materiais. Ocorre que isso não é um progresso, mas sim um tremendo retrocesso. Um “desamadurecimento”, afinal, o egoísmo é o maior sintoma de imaturidade.
Mais jovem, a pessoa estudava mais sobre questões sociais e se importava mais com a humanidade das outras pessoas. Mais velha, já afundada no trabalho e nas metas inúteis que às vezes ela própria se impôs, simplesmente para de se importar. Ela foi convertida à lógica da acumulação pura e simples. De bens, de status, de privilégios. Talvez faça uma caridade para lavar as mãos sujas, ou quem sabe nem isso. Mas, e aqui fica até cômico, talvez até consiga chegar ao ponto de acreditar que tudo que ela tem foi conquistado devido ao seu trabalho duro e ao próprio mérito. Sempre que eu me deparo com alguém que antes defendia o trabalhador e hoje defende banqueiro, passa o Star Wars 3, o mais triste, na minha cabeça. Sinto vergonha e, dependendo do caso, até asco. E tristeza. Mas é uma tristeza que passa rápido e que é contornada quando me lembro de gente que abriu os olhos a tempo e trilhou o caminho oposto. Pois comigo foi exatamente o oposto.
Desde os vinte e poucos, quanto mais o tempo passa e mais eu compreendo o mundo, mais fica clara a urgência de se refundar completamente essa sistemática de opressão-privilégio. Não que eu não goste de dinheiro e não queira ter o conforto que ele proporciona, mas realmente sinto que não faz o menor sentido que apenas eu e, proporcionalmente, mais alguns poucos tenhamos uma vida de relativa fartura enquanto os outros 99% das pessoas tenham negadas, e cada vez mais negadas, condições mínimas para uma vida digna. Um raciocínio nada muito diferente de quando eu tinha 12 anos e não conseguia entender de jeito nenhum porque diabos as pessoas queriam ter mais dinheiro do que o necessário para obter e manter uma casa e um carro. É esse moleque que eu tento honrar todos os dias. Aparentemente, minha única meta é chegar aos 50 sem cabeça. Ou melhor, com a cabeça de moleque. E, apesar de algumas tristezas, feliz.
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