quinta-feira, 4 de maio de 2017

Reflexões sobre Breaking Bad

Assisti Breaking Bad pela segunda vez e deu para refletir melhor sobre algumas coisas, ficando ainda mais clara a riqueza temática da série. (Contém spoiler)
- Walter White é obviamente amargurado com seu passado, com o fato de não ter ficado bilionário como seus colegas que ele ajudou. Isso é fato. Agora, a gota d’água pra ele se tornar um “cozinheiro” de metanfetamina foi justamente o fato dele não ter dinheiro, como professor, para bancar o tratamento de seu câncer e para permitir que sua família viva bem após sua eventual morte precoce. Lá não tem SUS e nem previdência pública obrigatória. Se o cidadão doente não tem dinheiro, que morra. Se a família do morto não tem dinheiro, que morra. Caso existissem sistemas públicos, como nos outros países desenvolvidos, muito provavelmente ele não teria se aventurado na bandidagem.
- Hank, o cunhado agente do DEA, é tão psicopata quanto Walt. Sim, ele reiteradamente viola a lei e os direitos de defesa dos acusados, não tem nenhum respeito pela intimidade e privacidade dos investigados, odeia e repele advogados, persegue pessoas, tira fotos alegre exibindo cadáveres, faz justiça com as próprias mãos, agride pessoas sem qualquer constrangimento, é extremamente preconceituoso com as minorias, não espera mandados judiciais para agir, é terrivelmente grosso com a esposa, etc. Enfim, é um lixo de policial e uma pessoa horrível. E adivinhem: na cidade ele é visto como herói!
- A figura de Jesse mostra muito bem como os adolescentes tidos como problemáticos, com ocorrências em seus registros escolares, são excluídos pela sociedade mesmo depois de adultos. Sem apoio dos pais e sem dinheiro para estudar, resta a ele pouquíssimas opções na vida. Ou fazer o trabalho braçal extremamente mal remunerado, ou dar seus pulos. Jesse, que apesar de conflituoso é muito inteligente, acaba escolhendo o caminho tortuoso que a série mostra.
- Tanto Walt no seu lava rápido quando Gus na sua lavanderia usam mão de obra essencialmente formada por latinos em situação irregular, deixando bem clara a grande importância dessa população para sustentar os modos de vida dos estadunidenses.
- De forma notoriamente intencional a série quis colocar no mesmo patamar os crimes de Walt, de fazer metanfetamina, com os de Ted, de sonegar impostos. Tanto é verdade que Skyler decide ajudar Walt em sua empreitada criminosa quando percebe essa equivalência.
- Alguns diálogos são muito interessantes. Num deles, Jesse se revolta contra a superexploração do seu trabalho, pois ele e Walt vão produzir mercadoria no valor de U$ 90 milhões, recebendo em troca apenas U$ 3 milhões, ilustrando o conceito de mais-valia. Noutro, que eu considero uma pequena obra prima, Walt conversa com Hank sobre drogas. Walt diz que nos anos 30 bebidas alcoólicas eram ilegais, sendo que essa decisão do que é ou não permitido é sempre muito arbitrária. Hank fala que Walt não entende nada sobre o assunto e que as drogas devem ser proibidas sim, mas, no mesmo ato, acende seu charuto cubano, produto proibido nos EUA, confessando que o conseguiu de um agente do FBI para quem fez um “favorzinho”.

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