Será que outra cultura é possível? Menos egoísta e mais solidária? Quer dizer, será que por aqui as pessoas não se acostumaram, simplesmente, a ver a lógica selvagem do mercado como a única correta, quando na verdade é a mais desumana que pode existir?
Uma dica boa para responder a essas questões está no documentário “Where To Invade Next?” (2015), do Michael Moore. Faz pensar no quanto é absolutamente lamentável que nós, no Brasil, tenhamos escolhido o modelo ideal a doentia sociedade dos EUA - onde o que importam são números, não pessoas e suas dignidades.
Pra quem não quer ou não pode assistir, vou resumir:
Moore faz um tour por países que têm políticas públicas radicalmente diferentes daquelas que são adotadas nos EUA, onde o que impera sempre são interesses financeiros. A diferença é resumida por uma islandesa: "os EUA se baseiam no 'eu', os islandeses se baseiam no 'nós'".
Itália
- Os trabalhadores têm 7 semanas de férias, mais 12 feriados nacionais. 15 dias de folga para quem se casa. 13º salário. Almoço de duas horas. 5 meses de licença maternidade. O pai também pode tirar essa licença. Nos EUA não há direito legal a nada disso. Nem férias.
- Trabalhadores italianos são mais produtivos que dos EUA.
- A cultura empresarial é absurdamente outra. Os empresários ouvidos, donos de grandes marcas italianas, dizem que não acham injusto ser tao caro manter os empregados e que os trabalhadores tenham tantos direitos. “É justo, justíssimo”, eles dizem. “As folgas são para eles desestressarem e ficarem menos doentes”. Eles não vêm problemas nos sindicatos, pagando bem aos empregados as empresas ainda assim têm bastante lucro. Os empregados são conscientes de que os direitos deles decorre de muita luta. Para os empresários, pagar impostos para o estado de bem estar social está ok, porque há retorno em serviços para o povo. Uma CEO chega a se perguntar de que serve ser tão rico, se as outras pessoas não são felizes? Importa, para ela, ver os empregados felizes.
- A Itália tem uma das maiores expectativas de vida do mundo, 4 anos a mais que os EUA.
França
- A comida nas escolas públicas é digna de bons restaurantes do país, têm equipes de chefs e nutricionistas cuidando ostensivamente do que as crianças comem. Num dia típico, numa escola de bairro aleatória, o cardápio era escalopes com molho de caril e creme fresco com cenoura e marisco. Isso era a entrada. O prato principal não vou nem comentar. Os alunos bebem água, muitas sequer conheciam o gosto de Coca Cola. E eles gastam menos do que nos EUA com as comidas nojentas que servem às crianças nas escolas públicas.
- A diferença de impostos na França e nos EUA é mediana, mas na França eles não têm que pagar por muita coisa, como educação, saúde, etc. Ou seja, na prática, sobra mais dinheiro para as pessoas gastarem com coisas não essenciais, já que o básico é fornecido pelo estado.
- Quando a empresa paga o funcionário ela tem que registrar quanto é imposto e para quais áreas vão os impostos. Nos EUA isso não existe e se existisse, todo trabalhador de lá saberia, por exemplo, que 59,5% dos impostos vão para a área militar, enquanto 6% vão para a educação e 2,6% para a ciência.
- Na França alunos têm muitas aulas de educação sexual. Em alguns estados dos EUA há campanhas para abstinência dos adolescentes, gerando epidemias de gravidez adolescente e de doenças sexualmente transmissíveis.
Finlândia
- O país tem o melhor sistema de educação do mundo. Os alunos não têm dever de casa. A ideia é que crianças têm outras coisas pra fazer, tipo conviver com a família, fazer amigos, andar no parque, brincar, explorar o mundo. As aulas são apenas 20 horas por semana. Pessoas têm que descansar a mente para aprender bem. Os alunos falam várias línguas: inglês, sueco, espanhol, francês, etc.. Aboliram os testes padronizados (vestibular), porque aprender para fazer provas é o mesmo que não aprender, na concepção deles. Aprender é para fazer as pessoas felizes. Eles têm aulas de artes, esportes, música, canto, poesia, etc. Escolas privadas não existem. Os filhos dos ricos frequentam as escolas públicas, por isso não as fodem. As crianças são autônomas, críticas em relação ao que aprendem e podem decidir fazer o que quiser. O objetivo é que as crianças sejam felizes. Nos EUA, o sistema educacional é o do mercado, voltado para exames padronizados, sem artes, sem música, sem crítica.
Eslovênia
- Tem um excelente sistema de ensino superior totalmente público. Ninguém paga para estudar, e inclusive estrangeiros são aceitos. Quando o governo decidiu que começariam a cobrar, os estudantes foram para a rua e o governo caiu, O GOVERNO CAIU por causa disso.
Alemanha
- Jornada de trabalho máxima é de 36 horas por semana.
- É contra a lei mandar e-mail para empregado depois do trabalho.
- Se uma pessoa está estressada com o trabalho o médico receita três semanas no spa. Prevenir doenças é muito mais barato do que trata-las depois.
- Praticamente ninguém tem dois empregos.
- Empresas têm que ter uma comissão de supervisão formada 50% por empregados. As empresas ouvem, de fato, os trabalhadores para tomar decisões.
- As escolas ensinam constantemente sobre os horrores do passado, e não como algo que ficou para trás, mas como algo que pode voltar a qualquer momento e ensinam as pessoas desde cedo a evitar esse tipo de coisa. Nos EUA, não havia sequer um museu sobre escravidão até 2015.
Portugal
- Portugal decidiu liberar o consumo de todas as drogas há uma década e meia. O consumo de drogas diminuiu, os problemas causados por consumidores de droga também diminuiu. O uso de drogas não é desculpa para prender ninguém. Fazem o radical oposto dos EUA.
- Os policiais baseiam todas as suas ações no princípio da dignidade da pessoa humana. A polícia dos EUA é absurdamente truculenta, tal como a daqui.
Noruega
- Eles têm um sistema prisional baseado na reabilitação, não na punição. Os presos de bom comportamento vão para vilarejos e vivem em comunidade, têm a própria casa, o próprio quarto e as próprias coisas, comem muito bem, fazem exercícios. E mesmo na prisão de segurança máxima os presos têm autonomia, têm aulas, vídeo game, têm estúdio de gravação disponível e vivem confortavelmente e etc. Presos votam e candidatos inclusive promovem debates nas cadeias. Os policiais sequer têm armas.
- O índice de reincidência é um dos menores do mundo, muito diferente dos EUA.
Tunísia
- O governo tem sistema público de saúde que oferece aborto legal desde 1973. Tudo isso mesmo o país sendo islâmico e africano.
Islândia
- Em 1975 as mulheres fizeram uma grande greve geral em que 90% das mulheres participaram. Acabaram conquistando inúmeros direitos e hoje têm oportunidades praticamente iguais às dos homens.
- Há cotas de pelo menos 40% para mulheres na diretoria das empresas. E a coisa foi tão levada a sério que tiveram que criar cotas para homens também.
- Na crise de 2008, ao invés de salvar os bancos, como fez os EUA, a Islândia resolveu deixar eles falirem e passar as coisas a limpo. Acabou prendeu os banqueiros responsáveis pelo colapso no país, uns 20 ou 30 caras. Nos EUA, apenas um cara foi parar na cadeia.
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