Qual é o ano em que as pessoas vão realmente cumprir as promessas que fizeram no dia 31 de dezembro?
No final do ano, com o Réveillon sendo exaustivamente anunciado pelas festivas vinhetas da Globo, é comum que as pessoas embaladas pelo clima de renovação que lhes é vendido façam promessas das mais diversas, estabelecendo para si objetivos e metas de todas as naturezas. Encontrar um novo amor, passar no vestibular ou em concurso público, trabalhar mais, ser promovido, emagrecer, passar mais tempo com a família, fazer amigos, "ser uma pessoa melhor", etc. etc. etc.
Essas metas acabam tendo eficácia muito semelhante à das superstições e mandingas da virada, ou seja, se não chegam a atrapalhar, com certeza não ajudam em nada. Pensamos o “ano que vem” como algo abstrato e distante, sem perceber que uma hora ele chega e é, com poucas alterações, exatamente como o começo do ano anterior, quando tínhamos objetivos muito parecidos com os acabaram de ser traçados.
Muito mais proveitoso é estabelecer essas metas depois de já iniciado o ano novo, pois a realidade nos torna mais racionais. Dessa forma, sente-se estar pisando na realidade a ser construída, de modo a que, para escolher os alvos a serem atingidos, pensamos de forma mais concreta, menos lúdica e encantada, pois é assim que as coisas de fato se apresentam. Quando se percebe que alguma dessas metas não é possível de ser cumprida, que se tenha a honestidade de admitir a própria fraqueza, que nada tem de vergonhoso, uma vez que somos humanos, com todas as virtudes e falhas inerentes à nossa espécie. O auto-engano só agrava os problemas.
Por exemplo, a meta “emagrecer em 2012” era algo longe quando estávamos em 2011. Mas se a promessa for feita já em 2012, é possível sentir desde logo a dificuldade para cumpri-la, dada a necessidade de imediata abstenção das guloseimas e refeições calóricas, sem contar a preguiça de se embrenhar na empreitada dos exercícios físicos, cujos resultados parecem demorar uma eternidade para se mostrarem. Se esse alvo é impossível, é melhor confessar a si mesmo tal incapacidade e comer sem culpa, ciente de que se fez claramente a opção por ter prazer comendo, apesar dos indesejáveis quilinhos a mais que chata da balança acusará quando se tiver coragem de pedir a sua opinião em alguma farmácia.
Essas ilusões não deixam de ser reflexo da cultura do conformismo que nos tentam impor, segundo a qual a realidade está posta e não cabe a nós modificá-la, sobrando apenas a difícil arte de considerar tudo normal, ficar quieto e se enquadrar, galgando um lugar ao sol às custas do fracasso dos outros.
Assim, proponho o fim dessa tremenda hipocrisia que são as tais promessas de ano novo - sempre irrealistas, infactíveis ou impossíveis -, que parecem apenas se somar ao álcool como ingrediente das festas de fim de ano para tornar a vida falsamente menos dura, contribuindo, de certa forma, para que, de boca aberta e olhos fechados, fiquemos mais dóceis diante daqueles que nos dominam e extraem de nós tudo o que temos. As gerações futuras agradeceriam.
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