sábado, 14 de janeiro de 2012

OAB: Reprovação e revolta

Ontem saiu o resultado final do V Exame da Ordem Unificado. Fui reprovado. E fiquei extremamente frustrado, revoltado e desiludido. Não porque o exame seria fácil e eu, “o cara”, pois na verdade é uma prova difícil e eu sou um candidato comum. Aliás, já fui reprovado em vestibulares e nunca culpei a Banca Examinadora, pois sempre confiei na justiça da correção. Na verdade, a não aprovação nesses casos só serviu para me dar ânimo a estudar mais, obtendo êxito da próxima vez. O problema é que a OAB nitidamente, por não querer aprovar muitas pessoas, sobretudo na área trabalhista, simplesmente não corrigiu ou corrigiu errada e pessimamente muitas questões dos seus candidatos. Justifico.

Quando me inscrevi, eu realmente não tinha grandes esperanças de passar. Afinal, quase todos da minha sala de quinto ano que prestaram e passaram fizeram antes bons cursinhos. E, além disso, optaram por áreas que dominavam bem. Já eu, além de não fazer curso preparatório (apenas tendo assistido alguns DVDs da FMB), escolhi a área trabalhista, com a qual tenho pouca intimidade, apesar de gostar bastante e pretender seguir minha carreira no Direito do Trabalho.

O fato é que fui aprovado na primeira fase. Após a prova de segunda fase fiquei desiludido, pois tinha respondido basicamente de acordo com o pouco conhecimento de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho que havia adquirido no terceiro ano da faculdade, ou seja, os conceitos que usei já estavam bem nebulosos em minha mente, e, talvez, errados nas minhas respostas.

Porém, assim que a OAB divulgou o “padrão de respostas esperadas” fiquei um pouco mais confiante, já que algumas questões que pensei ter errado, tinha acertado em cheio, além de ter ido bem na peça processual, errando um ou dois itens, apenas.

Então, saiu o resultado...

Para quem não sabe, a OAB, muito diferente dos vestibulares, disponibiliza o acesso a tudo o que escrevemos nas provas. E estavam lá. Respostas completamente corretas de acordo com o “padrão”, mas às quais foram atribuídas nota zero. Nem mais, nem menos (vai saber...). Zero puro e simples. Ao final do post mostro um dos muitos exemplos que poderiam ilustrar a situação.

Não entendi bem o que estava acontecendo e entrei em um grupo de estudos para a OAB para me inteirar melhor. A gritaria e revolta era generalizada entre os que prestaram a área trabalhista. Muitas e muitas pessoas tiveram o mesmo problema: simplesmente não corrigiram ou corrigiram e quiseram, por má fé, dar notas baixas ou zeradas para os candidatos.

Então, fiz o óbvio: recorri, já que a OAB permite que o candidato que discorde da correção conteste o resultado. E ontem divulgaram o resultado da análise desses recursos. Todos foram indeferidos. “Nota mantida” em todos os itens que contestei.

O problema de se dizer isso é que parece choradeira de perdedor. “Ah, eu não passei porque os corretores foram sacanas!”, diz o cara que se acha bonzão. Mais ou menos o que acontece com acidentes de trânsito, em que sempre o envolvido que relata os acontecimentos joga a culpa no outro, de modo a sempre ficar pairando no ar um “Duvido que tenha sido assim mesmo” em quem ouve a história. Mas não, eu realmente não teria qualquer problema em ser reprovado de forma justa, por não saber ou não ter respondido corretamente as questões. Mas ter respondido de forma absolutamente correta e tomado seguidos zero é algo que revolta qualquer um.

Vejam que eu não estou simplesmente dizendo que a resposta que eu coloquei é correta e que o “padrão de respostas” está errado. O que estou afirmando com todas as letras é que eu coloquei na prova exatamente o que eles queriam, e mesmo assim fiquei com zero em muitos itens e questões.

Aliás, não entendo para quê eles mostram o “padrão de respostas” e a prova, já que ao apresentarmos a eles os problemas da correção há uma total desconsideração de tudo que é argumentado. Melhor seria se o procedimento adotado fosse o dos vestibulares, ou seja, não divulgar as respostas esperadas, nem disponibilizar acesso à prova e muito menos permitir recursos. Assim, pelo menos, o candidato tem a ilusão de que a correção foi justa e que estudar mais da próxima vez vai trazer melhor resultado...

Não foi o caso. Junto com a revolta decorrente da injustiça patente vem um sentimento de impotência, uma a desilusão. Sinto que estudar e saber a matéria realmente não basta. Tem que ter é sorte de optar por uma área que não seja a perseguida da vez, como foi a trabalhista nesta edição, e contar com o bom humor do corretor e, talvez, do revisor.


A seguir, a comparação entre a resposta esperada e a nota dada.
Na primeira imagem temos a resposta dada por mim. Sim, a minha letra é medonha mesmo. Na segunda figura, vemos a resposta esperada e os quesitos avaliados pela OAB, a pontuação possível e a nota obtida, no caso, zero. 

Acima, a resposta dada pelo candidado. Abaixo, a os "quesitos avaliados" (atenção para a opção A), as notas possíveis e a nota (zero) obtida.

Como se vê, a resposta está completíssima, expondo todas as idéias necessárias. Nessa questão em específico eles apresentaram duas respostas possíveis. Eu respondi de acordo com a opção A, mas o revisor fundamentou a manutenção da nota afirmando que eu não respondi de acordo com a opção B. Um completo descaso, absurdo e desrespeito!  E essa foi apenas uma das questões em que houve esse problema... Isso desanima, frustra, corrói, assombra, choca, destrói, revolta. 

Alguns dos muitos candidatos que sofreram essa mesma injustiça estão organizando um Mandado de Segurança Coletivo para tentar reverter na justiça as reprovas absurdas que a OAB consumou. Porém, os Tribunais rarissimamente acataram alegações de erro de correção, o que acaba tornando a desilusão ainda maior, pois mostra com lentes e holofotes que a postura injusta e intransigente não se restringe apenas a um órgão profissional burocrático como a OAB, mas contamina todo o Estado, que continua a tratar o cidadão com total desprezo, como se a ele nada devesse.

2 comentários:

  1. Ailsson Camargo, compartilho dessa mesma revolta! Escolhi minha reprovação quando deixei de optar pela matéria que gosto (penal) para escolher Trabalho... Coisa de marinheira de primeira viagem! Não há sensação pior do que esta, parece que estamos presos, acorrentados e nada podemos fazer... Respondi várias questões em conformidade com o espelho e... Estou aqui com essa sensação de impotência e descaso.

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  2. Concordo com tudo que foi dito...as questões foram respondidas de acordo com o espelho de respostas e nenhuma pontuação foi dada aos candidatos...tb fui reprovada e estou batalhando para ver esta injustiça ser corrigida. Fiz Direito pq acredito na Justiça, logo, não posso de forma alguma desistir agora!

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