quarta-feira, 1 de abril de 2015

Protestos e terceiro turno

Se fosse para protestar contra a nomeação de um neoliberal para Ministro da Fazenda (Levy), de uma ruralista-escravista para Ministra da Agricultura (Kátia Abreu), de um mafioso para o Ministério das Cidades (Kassab), eu iria.
Se fosse para protestar por um empenho efetivo do governo em promover uma reforma política que democratize a representatividade do Congresso Nacional, eu iria.
Se fosse para protestar em favor da regulação e democratização da mídia, eu iria.
Se fosse para protestar contra a promessa de privatizar a Caixa Econômica Federal, eu iria.
Se fosse para protestar contra a regulação do seguro-desemprego e de alguns benefícios previdenciários que acabou por prejudicar os trabalhadores eu iria.
Se fosse para protestar contra a falta de empenho do governo em projetos como o de redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução salarial, o da reforma agrária, o de estabelecimento de imposto sobre grandes fortunas, o de regulamentação dos direitos das domésticas, o do confisco de terras onde haja trabalho escravo, o de desmilitarização da polícia militar, ah, sim, eu iria.
Agora, ir aos protestos de amanhã para, como uma criança mimada, simplesmente mostrar que eu não aceitei o resultado das eleições e que desejo um golpe de estado – porque no fundo é essa a reivindicação principal – isso eu jamais faria, pois quero poder dormir em paz comigo mesmo. Defender impeachment ou, ainda mais ridículo, "intervenção militar" e, assim, destruir a ainda frágil democracia brasileira é coisa ou de canalha, ou de mal informado.
Há um terceiro grupo, que são os insatisfeitos com a atual condução de nossa política econômica, com o preço da gasolina, com o preço da energia elétrica, com a inflação, etc., esses, se de fato souberem direitinho as razões pelas quais cada medida do governo foi tomada, merecem respeito e acho até que nem deveriam se misturar com os golpistas.
Demonstrar insatisfação é uma coisa, lutar por uma ruptura da ordem constitucional democrática, arduamente conquistada, é outra. Colocar tudo no mesmo bolo é assumir o risco, ser cúmplice, da merda que pode vir.

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