Vou ser sincero. Protesto contra a corrupção é a coisa mais inútil que pode existir. Ou alguém acha que o Renan Calheiros vai olhar toda a manifestação e pensar: “Nossa, olha essa galera, eles estão querendo o fim da corrupção, mas, gente, nunca tinha pensado nisso, vou parar de roubar!”.
E se fosse contra a corrupção, onde estavam os cartazes referentes, por exemplo, ao tremsalão, ao mensalão do PSDB mineiro, à lista dos 8.000 brasileiros sonegadores do HSBC, aos aeroportos particulares-públicos do Aécio? Onde estavam os cartazes contra o PP (partido do Bolsonaro) que tem 30 parlamentares envolvidos na Lava Jato (enquanto o PT tem 5)? Onde? Aliás, quantos dos manifestantes sabiam que a Dilma sequer aparece na lista de Janot e que Aécio, indicado como beneficiário do esquema, só não aparece por um malabarismo argumentativo do Procurador-Geral? Essa indignação seletiva, para mim, desculpem-me, é o maior sinal de alienação política que as pessoas, reduzidas a massa de manobra, podem demonstrar.
Em 2013, o que estragou os protestos foi justamente essa falta de pauta. “Contra a corrupção” é algo genérico, vago, não atinge ninguém. À época, o governo, entendendo o recado das ruas, propôs ao Congresso uma reforma política que, limpando as engrenagens das instituições, exterminasse a corrupção encalacrada em nosso atual sistema, inclusive proibindo o financiamento empresarial de campanhas. A oposição cuidou de arquivar a proposta, e para onde foram os indignados? Onde estavam os que ontem ao som do hino nacional marcharam contra a corrupção? Provavelmente no mesmo lugar onde estavam quando no Brasil se morria de fome, ou seja, em frente ao sofá assistindo jornal nacional, inertes.
O PT tem corruptos, sim - muito menos do que outros partidos concorrentes, como mostram as listas de fichas sujas - mas toda instituição tem corruptos e o que se deve considerar é como elas lidam com esses desmandos. E se contarmos a história do outro lado, veremos que o governo Dilma aprovou a Lei da Transparência, a Lei da Delação Premiada e a Lei do Ficha Suja. Ainda, para quem não lembra, Dilma, assim que ficou ciente das falcatruas na Petrobras, ainda em 2012, imediatamente demitiu todos os envolvidos sob os quais havia suspeitas consistentes. Vocês têm certeza de que é nesse governo que vocês querem jogar toda a culpa pela corrupção do país? Por que se a resposta for sim, do ponto de vista político, a lição que os manifestantes “contra a corrupção” deixam é a de que é um péssimo negócio descobrir e combater a corrupção, ou seja, compensava ter deixado os roubos debaixo do tapete, para que ninguém ficasse sabendo, como sempre foi. O cálculo não é difícil de fazer.
Então, não digam que foi contra a corrupção. Fica feio demais.
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