Ontem, vendo o programa Truques da Mente, do NetGeo, fiquei realmente impressionado com o quanto a nossa condição biológica condiciona toda a nossa vida em sociedade. Chocante para quem estuda só humanas há um bom tempo. rs
O programa foi sobre comportamentos que repetimos sem pensar a respeito, os quais fazemos apenas porque todos ao nosso redor estão fazendo. Em um dos testes, por exemplo, havia uma sala de espera de consultório médico, onde vários atores fingiam ser pacientes, sentados, e quando tocava uma campainha, todos ficavam em pé e logo voltavam a se sentar. Quando chegava um paciente real, no começo ele estranhava o comportamento sem sentido dos outros, mas depois, para não ficar diferente, sem que ninguém falasse nada, eles começavam a também levantar-se e sentar-se ao ouvir a campainha. Quase todos fizeram isso, mesmo os mais hesitantes e céticos. Em outro teste, as pessoas simplesmente erravam de propósito a resposta de uma pergunta apenas porque todos os demais haviam errado também e a resposta certa “não poderia ser a certa, já que todo mundo acha que é errada”. Noutro, atores começavam a aplaudir em pé uma palestra propositalmente horrível, e em pouco tempo quase todos se levantaram também. Havia raríssimas exceções, que se negavam a seguir o fluxo.
Explica-se: Evolutivamente, é muito mais vantajoso seguir o grupo, a maioria, mesmo que ela esteja errada, pois as chances de não se dar tão mal são muito maiores. A notícia ruim é que ser idiota parece uma condição humana perfeitamente compreensível.
Isso, aplicado na política, pode resultar em qualquer coisa. Quem assistiu ao filme “A Onda” sabe do que falo.
No Brasil recente, esse “efeito manada” pode ser sentido de várias maneiras: No “Não vai ter Copa”, no “Fora Dilma!”, na subida exponencial de Marina Silva com a morte de Eduardo Campos, no “Aécio 45”, no “nunca houve tanta corrupção quanto agora e é tudo culpa do PT”, nas manifestações do dia 13 de março e agora nas de 12 de abril, no endeusamento de Joaquim Barbosa, na redução da maioridade penal, no “bandido bom é bandido morto”, no “direitos humanos só serve para proteger bandido”, no “o Estatuto da Criança e do Adolescente é que atrapalha a educação das crianças”, no “a família educa e o professor só ensina”, no “Impeachment já”, no “Bolsomito”, no “as ciclovias são mal planejadas”, no “a falta d’água é culpa da falta de chuva e das pessoas que desperdiçam, e não do governo de SP”, no “não faltam médicos, falta apenas infra-estrutura”, no “bolsa família cria vagabundos”, no “sindicalista e grevista é tudo vagabundo”, dentre tantos outros comportamentos que as pessoas no fundo – adotando o comportamento com menos riscos, mas não necessariamente o melhor – apenas se limitam a copiar e sobre os quais jamais realmente pesquisaram ou refletiram criticamente.
Duas teses confirmadas: 1) Quem manda em tudo realmente é a mídia (e claro que quem manda na mídia é o grande capital) e; 2) O conservador, de fato, não passa de um covarde, em seu estado mais animalesco.
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