segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Os 7 pecados capitais do povo brasileiro

Listei abaixo o que considero ser o conjunto dos pecados mais graves que o brasileiro comete. Já aviso que a linguagem é propositalmente generalizante, para dar mais ênfase ao que pretendo transmitir. Sei que há muita gente que não comete muitas das atitudes colocadas. Essa entidade que eu chamo de “povo” não deve ser entendida como “todos os brasileiros”, portanto. As atitudes que classifico como “pecados” são a expressão do que, apesar de pernicioso, é aceito como normal pelas pessoas em geral, fazendo parte de uma consciência coletiva, do modo de pensar e agir do cidadão brasileiro. Eu mesmo cometo alguns dele, o que não me impede de fazer essa autocrítica, sempre construtiva. Se ofendi alguém, dane-se, já que o intuito é fomentar a reflexão e discussão. rs


1. Passividade
Esse talvez é o pecado maior, pois é aquele que de fato impede o Brasil de deslanchar. O povo, infelizmente, aceita tudo. Aceitou, inclusive, como se fosse maravilhoso, que Brasília fosse construída no meio do nada. Com isso, o cidadão foi afastado dos seus representantes, sendo impedida a formação de consciência política sólida, que de fato pudesse influenciar o rumo dos governos. Aceita, diariamente, os escândalos políticos que vêem a público, elegendo e reelegendo os seus protagonistas. Vota no Tiririca como forma de protesto. Elege Romário, Clodovil, Netinho, etc. achando que eles têm algo a contribuir para a política nacional. Só não aceita as besteiras que os humoristas falam, pois dão mais valor a elas do que aos atos imorais dos políticos que escolhem. Tratam as coisas públicas como se fosse de um ente abstrato chamado “governo” e não como se fosse algo de todos, inclusive dele mesmo, dos seus amigos, parentes, filhos e netos. E os mais realistas e críticos são, ironicamente, criticados(!) por seu suposto pessimismo...

2. Intolerância. 
Infelizmente , o povo não respeita quem pensa diferente. Quem não é cristão, por exemplo, é quase um monstro. Quem não gosta de sertanejo é “do contra”. Quem acha que está sendo explorado pela empresa é vagabundo, fraco ou mal agradecido. Quem é rico (exceto os jogadores de futebol) só pode ser ladrão! Quem não bebe é quadrado, sem graça e não se diverte. Não se respeitam os homossexuais, que não podem ter uma vida normal, estando, quando em público, sempre acuados por medo da ignorância e intolerância alheia. Ainda há racismo, que expressa de forma nítida no recrutamento de empregados(as). Ainda há machismo, como se vê nas mais diversas peças publicitárias e programas de TV.

3. Egoísmo. 
O povo não pensa nos outros. As pessoas não respeitam aqueles que se encontram em situação de maior fragilidade, e isso fica bem claro no trânsito e nos meios de transporte público. O pedestre, por exemplo, é um herói pelo simples fato de chegar em casa vivo. Mesmo com leis e campanhas de respeito aos transeuntes, os motoristas os vêem como obstáculos no caminho. É comum ver idosos, gestantes e deficientes indo em pé nos transportes públicos enquanto algum jovem marmanjo está confortavelmente sentado. As cidades são sujas, pois se tem o costume de jogar lixo de todas as espécies na rua e, não raro, justifica-se a atitude por se estar dando empregos para os garis. Que batam o carro no poste ou se joguem na frente de um caminhão a fim de dar emprego para o mecânico, o corretor de seguros, o médico e, com sorte, para o coveiro!

4. Futilidade. 
Cultura aqui é só futebol e carnaval. No carnaval e pelo futebol pode tudo. Não se vê nada que preste na TV aberta, única fonte de lazer de enorme fatia da população. Prefere-se sempre as obscenidades e futilidades das novelas e programas de auditório do que um bom programa da TV Cultura ou um livro. “Todo mundo assiste ao BBB, você também deveria assistir para ter assunto!”, é comum ouvir. O povo só considera normal gostar de músicas nacionais, que falam sempre do mesmo tema, sem qualquer teor realmente poético ou crítico. É chique, esnobe ou grosseiro gostar de música boa. Jornal? Só importa o caderno de futebol, o horóscopo e, talvez, a coluna social, que nos conta sobre a vida sexual dos artistas e dos ex-BBBs. Livros? Só autoajuda, por favor.

5. Pensamento religioso acrítico
O povo acha que pessoas religiosas são automaticamente éticas, e, pior, que pessoas não religiosas são más. Diz-se que o Estado não deveria mesmo ser laico, mas que tal, então, adotar o islamismo como religião obrigatória e oficial? O problema não está em ser religioso, mas em querer impor o seu modo de vida aos outros. Parece esperar que a solução dos problemas venham do céu, como se não fossem parte do processo histórico que a cada dia construímos.

6. Alienação quanto aos próprios direitos
O povo parece lutar contra direitos arduamente conquistado pelos seus antecessores. Mordem a isca do discurso neoliberal. Manifestantes são baderneiros ou vagabundos. O trabalhador que processa a empresa que não cumpriu devidamente seus deveres é tido como ingrato. Há uma cultura de rejeição ao direito de greve e aos sindicatos. Basta alguém defendê-los em relação a determinados setores, especialmente se na área pública, para surgirem pessoas das mais diversas estirpes dizendo que a greve não deve existir, que tem que demitir quem faz greve, que é indisciplina do empregado, que se não está satisfeito com o trabalho que procure outro e etc. Não conhecem a própria história, nem o direito, nem as estatísticas, nem a geopolítica e nem, ao que parece, um palmo a frente do nariz.

7. Contradição. 
Muitas são as contradições, nítidas a olhos atentos. As pessoas são contra a corrupção, mas, na primeira oportunidade, tentam subornar guardas de trânsito e compram eletrônicos piratas, roupas e as mais diversas quinquilharias de procedência duvidosa. Acham que funcionário público ganha até demais, mas exigem serviços públicos de qualidade. Clamam por educação, mas pensam que sustentar os filhos, quando a família tem recursos, para que apenas estudem é um favor, e não um dever. Falam que o salário mínimo é insuficiente, mas não pagam um centavo a mais para sua empregada doméstica. Reclamam do tal “governo”, mas sempre que possível, dão o seu famoso e característico jeitinho brasileiro.

Um comentário:

  1. Eu concordo com a maioria dos pontos. Essa coisa da passividade, do conformismo, é bem verdade. Quantas e quantas vezes eu já ouvi (e você também já deve ter ouvido) pessoas falando sobre como as coisas estão boas, como o Brasil é um dos melhores países para se viver (imagina, os europeus todo passando fome e nós aqui no bem-bom), e até uma que falou que Lula "consertou o Brasil" (ou seja, não precisamos mais fazer nada!).

    O que eu vejo é que as pessoas não têm interesse em melhorar, se contentam em sobreviver. E se você de alguma forma conseguir melhorar, culturalmente, financeiramente, etc., espere pedras, não aplausos. As pessoas odeiam qualquer coisa que as faça encarar a própria mediocridade, o que talvez seja uma das raízes da obsessão que o brasileiro tem com "humildade". As pessoas tem ouvidos de cristal. Qualquer coisa que você falar, mesmo pertinente, pode ser interpretada como ofensa. Você com certeza já ouviu alguma crítica do tipo "você se acha melhor do que os outros". É duro.

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