segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Democracia dos Holofotes

A foto abaixo retrata bem o nosso modo de fazer política. Figuram nela, lado a lado, o ex-jogador Romário, o senhor feudal José Sarney, o humorista Tiririca e o ex-pugilista Popó.

A meu ver, o problema não é só a figura do Sarney, cujo passado e presente não perdem a oportunidade de condenar em todas as instâncias. Aliás, convém deixar claro, penso que a imagem mais perniciosa da foto é justamente a do Senador maranhense, já que os outros três são figuras que, apesar da feiúra, despertam simpatia e não deixam de transmitir certa confiança e honestidade.

Pois bem. Parece que a democracia moderna, como pensada pelos iluministas, está sendo cada vez mais pervertida. A ideia original é que, sendo impossível a participação direta de todos os cidadãos nas políticas do Estado (como acontecia na pólis grega Atenas), a solução seria a escolha pela população de representantes que tomariam as rédeas das decisões, desde as menores até as que realmente definiriam os rumos da nação. Eleger-se-iam pessoas com quem concordamos a respeito do Estado que se quer construir, dos problemas que se quer resolver, das lutas que se quer empreender. Seriam mesmo representantes, pois fariam as nossas vezes nas assembleias onde as decisões são tomadas.

Todavia, o que vemos na foto, pela presença das três simpáticas figuras é que não se estão elegendo representantes do povo, mas pessoas simplesmente conhecidas pelo povo, que nada têm a acrescentar às discussões políticas e ideológicas do país. Afinal, acredito que até por inocência, eles parecem estar orgulhosos de posar ao lado do Sarney! Não que se devam eleger apenas pessoas eruditas, com formação acadêmica brilhante. Mas eleger apenas pela fama e simpatia é temerário e muito preocupante. Parece uma receita infalível para impedir o Brasil de se desenvolver e se transformar em uma potência econômica onde impere a justiça social, como todos nós, otimistas, desejamos.

Claro que é importante eleger pessoas em que se confia. Mas honestidade não pode ser a única qualidade de um político. Todo político, por excelência, tem que ser honesto, ninguém discorda. Mas não honesto. Dentre os honestos, que se escolha o mais qualificado e aquele que pensa e age do modo que nos parece mais correto. Não é nada saudável para a democracia que os cargos políticos mais importantes da República sejam rifados e assumidos pela mera fama ou simpatia dos sujeitos mais populares (que viram iscas de votos para os partidos mais oportunistas, já que pelas regras eleitorais quando um candidato obtém muitos votos, carrega pessoas do mesmo partido com poucos eleitores, devido ao "coeficiente eleitoral”). Esses critérios dos holofotes são grosseiros e preguiçosos. Não há muita diferença entre eles e o “ele rouba, mas faz” ou o “ele me deu uma dentadura na eleição”.

Antes eles do que o Sarney? Concordo. Mas adiciono: Antes pessoas realmente engajadas, com conhecimento, experiência e atuação política e social reconhecida, que defendam suas idéias e valores, do que famosos decadentes buscando uma nova fonte de renda (o nosso dinheiro).

Falta ao brasileiro adquirir consciência da seriedade e das conseqüências que têm suas escolhas. Afinal, o Brasil não é um estádio, um picadeiro ou um ringue. Muito menos um curral.

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