segunda-feira, 10 de junho de 2013

Passeio no zôo ilógico


Estava em um restaurante onde as paredes tinham enormes janelas de vidro. Em determinado momento, percebi que, na verdade, se tratava de uma redoma de zoológico e os animas nos viam de fora, observando atentamente aquelas cenas a fim de conhecer melhor nossa espécie.

De pronto, os bichos ficaram maravilhados imaginando que éramos muito pacíficos e civilizados, afinal, além de nos equilibrarmos apenas sobre duas patas, algo raro em bichos sem asas, não havia nenhum tipo de desordem ou agitação naquele ambiente, que parecia um lugar agradável para todos.

Apesar de sermos muitos humanos lá dentro, cada um de nós interagia apenas com quem estava próximo, os mesmos com quem se dividia a comida. Não devíamos ser uma espécie muito sociável. Aqueles que não comiam, nitidamente estavam esperando a comida chegar, sempre distraídos com um objeto retangular que ora era apertado freneticamente, ora ia para uma das orelhas, algumas vezes era mostrado para quem estava ao lado, raramente era deixado de lado. Os gatos mais sábios se identificaram e perceberam que aquela coisa seria equivalente aos novelos de lã. Quem comia, mal olhava para o lado e interagia ainda menos com os outros.

Mas um fato chamou muito a atenção dos visitantes. Havia alguns humanos que ficavam em pé o tempo todo, vestindo roupas idênticas entre si, apenas servindo os outros humanos que permaneciam sentados e comiam. Aquilo era muito intrigante. O que teria levado àquela situação estranha, em que uns apenas serviam e outros apenas comiam?

As formigas, que já nascem operárias, soldados ou rainha, imediatamente disseram ser uma predeterminação natural, mas os demais bichos protestaram, afirmando que aqueles humanos eram todos muito parecidos para estarem diferenciados biologicamente desde o nascimento. Os cachorros sugeriram que havia um acordo entre as partes, em que livremente uns aceitam servir e outros aceitam ser servidos. Improvável, refutaram os outros. Aquela espécie era de humanos, não de burros ou jumentos. O abutre, então, demonstrou plena convicção de que se tratava de uma imposição dos que são servidos, que por alguma razão têm poder para forçar os que servem a servirem, sob pena de ficarem sem comida. Não, essa última hipótese estava descartada para os demais, pois aquela espécie era notoriamente muito civilizada para um sistema tão rude de sobrevivência.

Após longas discussões, os visitantes, desde a menor das aranhas até a mais gigante baleia, chegaram a um consenso de que os humanos fazem uma espécie de revezamento da seguinte maneira: em uma parte do tempo um grupo serve e o outro é servido; em outra parte, as funções dos grupos se invertem; na parte do tempo que sobra, muito maior do que as duas outras, todos descansam, se divertem ou fazem o que mais lhes agrade. Dessa forma, não falta nada para ninguém e todos, sendo verdadeiramente livres, aproveitam o tempo para existir em sua plenitude. Essa hipótese era, definitivamente, a mais provável, já que aquela espécie maravilhosa realmente parecia ser muito superior, esperta e organizada. Apenas o abutre, com seu faro implacável, continuava desconfiado.

Os animais que haviam nos estudado em outras redomas e conheciam melhor nossos modos de vida, ou se indignavam, ou não conseguiam conter o riso diante da ingenuidade dos demais. 

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