segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ditadura de mercado: Pobre Grécia

Indo totalmente na direção do que eu tinha escrito aqui em postagem anterior a respeito dos culpados pela crise econômica mundial ("O povo é culpado pela crise financeira?"), Clóvis Rossi, colunista da Folha que não pode ser nem de longe considerado um ícone da militância esquerdista, mostrou em sua coluna de ontem ("A ditadura esfola a Grécia", Folha, 12.2.2012) o quão absurda é a ideia de culpar o povo grego pela crise naquele país, já que as pessoas teriam consumido mais do que eventualmente poderiam pagar.

Segundo escreveu o colunista,
"o mais triste é que 11 de cada 10 análises sobre a Grécia culpam os gregos -e apenas os gregos- pela sua tragédia. A história convencional é a de que a Grécia viveu uma esbórnia de consumo financiada pelo endividamento e agora tem que pagar com dor. Não deixa de ser verdade, mas é só parte da verdade. Primeiro, consumir é a música que mais toca no capitalismo. Logo, os gregos só fizeram o que é de praxe no sistema hegemônico. Segundo, tomaram empréstimos não porque tenham assaltado os bancos, mas sim porque os bancos os ofereceram sem olhar responsavelmente para a capacidade do tomador de devolvê-los algum dia."
Ou seja, os bancos ofereceram empréstimos de forma completamente temerária, sem analisar corretamente os riscos (ou aferindo-os de forma precisa, mas por má-fé ocultando seus possíveis efeitos desastrosos dos demais entes do mercado) e, tomando o merecido calote, vêem cinicamente nos seus clientes os culpados pela crise financeira cuja solução nem Sócrates, nem Platão, nem Aristóteles seriam capazes de pensar.

Também corroborando o meu texto anterior, o autor - repita-se, não se trata de um marxista desvairado - afirma que, na Grécia, 
"quem paga a crise são os trabalhadores de salário mínimo, a ser reduzido, e os aposentados, cujos vencimentos serão cortados. Os bancos só cedem anéis para poderem manter os dedos gordos, ainda mais engordados pelos juros obscenos que cobram para rolar a parte da dívida grega que não será reestruturada."
Completa suas brilhantes colocações de forma lapidar, ainda referindo-se à nação grega: "Ditadura - ainda mais ditadura de mercado - é assim."

O Mercado-Ditador, por meio da União Européia, colocou no posto de Primeiro Ministro - lugar anteriormente ocupado por Papandreu, eleito legítima e democraticamente - um tal de Papademos, fantoche de perfil puramente técnico, sem qualquer eleição pelo povo daquele país.


Digno de nota também o fato de que antes de Papandreu deixar o cargo ele havia proposto um plebiscito para consultar diretamente o povo sobre a aprovação do "Pacote de Austeridade". O Deus-Mercado ficou em pânico. E a democracia direta não foi utilizada em favor de que a criara. Como disse o blogueiro Bruno Silva Rocha (A Grécia e os limites da democracia representativa)
"a tragédia se dá diante dos discursos. Papandreu, líder do PASOK (ex-social democratas, similar ao PSOE espanhol) se elegeu no voto de protesto contra a direita, pegando carona no discurso da insurreição popular de 2008. Dois anos depois cai por blefar um apelo para a democracia direta na terra que a inventou.
Se a população fosse convocada a decidir, teria sobre os ombros toda a responsabilidade política, sabendo que não seguir as regras da Europa implica em sair da zona euro e dar um calote na dívida."
Quem paga a conta, quando falta democracia? Óbvio que são os mais pobres, vendo o salário mínimo diminuir, seus benefícios previdenciários minguarem, os impostos aumentarem...


E não precisava ser assim. Nos Estados Unidos, os bancos causadores da crise estão sendo obrigados a indenizar em U$ 26 bilhões suas vítimas, 2 milhões de pessoas que já perderam ou estão para perder a casa financiada.


Odeio dizer isso, mas... Pontinho para os EUA, que já têm milhões de pontões negativos.

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