Após a lamentável e trágica morte de
Eduardo Campos, o cenário político-eleitoral mudou completamente e a ameaça à
Dilma e à continuidade das políticas sociais iniciadas por Lula já não é mais
tanto o Aécio Neves, que teve a candidatura enfraquecida, mas sim Marina Silva.
Muita gente passou agora a ver a
Marina como a representante da mudança, uma messias, a salvadora da pátria que
vai livrar todos dos males do PT, do PSDB e dos outros partidos. Mas será que
ela difere muito do que há de pior nesses dois partidos, sobretudo no PSDB? É
como se, caso eleita, a corrupção fosse acabar no Brasil. Marina é o maior
engodo político dos últimos tempos, uma candidatura insossa mas que virou o
“canto da sereia”, que não resiste a uma análise crítica um pouco mais
aprofundada.
Na verdade, inicialmente, ver Marina crescer foi positivo, porque Aécio ficava ainda mais longe de ser eleito, o que é, em
si, uma vitória tremenda para o país. Contudo, pesquisando um pouco sobre quem
é realmente Marina Silva e quais são as suas intenções no governo, percebe-se
que, na verdade, do ponto de vista econômico e social, ambos não se diferenciam
em quase nada. Pode-se dizer que Marina é, hoje, um Aécio mais esverdeado.
Marina foi do PT durante mais de uma
década, depois foi para o PV e, por fim, tentou fundar um novo partido, mas não
conseguiu por falta de apoio e assinaturas necessárias. O partido que ela
queria formar era “sem ideologia”, “nem de esquerda, nem de direita”, voltado
especialmente para quem “está cansado de política”, na mesma esteira do sucesso
eleitoral de Tiririca. Aliás, o último Presidente que vendia essa ideia foi Collor.
Mais fácil que politizar as pessoas para decidirem conscientemente é
desqualificar toda a política e, fingindo estar fora do jogo, fazer o povo de
idiota. Luiza Erundina, companheira atual de partido de Marina, disse que ela
“emburrece o debate político”, e é isso mesmo que está acontecendo. Afinal,
alguém viu alguma proposta de Marina? Ela limita-se a falar que é “a cara da
mudança”, que vai fazer a “nova política”, mas proposta que é bom, nada. Ou alguém sabe efetivamente o que ela vai fazer pela educação, saúde, segurança, saneamento, infra-estrutura, transporte e demais questões sociais?
No “quem dá mais” político, para não
ficar fora da disputa presidencial, Marina filiou-se a um partido qualquer, o
PSB de Eduardo Campos, com o qual não tem nenhuma afinidade. Desde a sua
entrada no partido para concorrer como vice, entrou em atrito constantemente.
Agora, o próprio partido não sabe mais o que fazer com ela, que pegou para si a
legenda, desvirtuando o programa deles. Diverge em vários pontos do próprio
vice, assim como divergia de Eduardo Campos. Por exemplo, Marina antes disse
que não apoiaria Geraldo Alckmin (embora seu partido apoiasse), agora diz que
espera governar com o apoio de José Serra, aquele que afirmou não ver ilicitude
na formação de cartéis, e seu vice atual aparece pedindo voto para Alckmin na
TV. Essa é a “nova política”, baseada no velho oportunismo. Não à toa alguns já
abandonaram o barco. Ela é um vazio. Não tem propostas e as que tem são
altamente incoerentes entre si.
Como disseram: “Alguém que saiu
do PT, saiu do PV, não conseguiu fazer o jogo político pra fundar um partido,
foi aceita em uma legenda alugada mas está quebrando o pau lá dentro... Eu
teria como melhor amiga. Mas tenho dificuldade em querê-la como Presidenta.”
Sendo esse chamariz de conflitos, com que apoio Marina vai governar? Que nunca saibamos a resposta.
No mais, ela está garantindo a todos
que vai "recrutar" os melhores para compor sua equipe, os melhores do PT, do PSDB
e de outros partidos. Se ela fosse mesmo capaz de fazer isso o teria feito em
seu próprio partido, que não foi fundado exatamente por falta de apoio. Vive
mencionando que vai “unir todos os brasileiros”, negando veementemente a luta
de classes, como antes defendia. Quer dizer, esse discurso de “grande
conciliadora acima do bem e do mal” é megalomaníaco e nitidamente enganoso.
Sobre a candidatura, já pende um
problema sério relacionado ao avião de Eduardo Campos ter sido comprado por
empresas fantasmas, com suspeita de financiamento por caixa-dois da campanha.
Ela disse no Jornal Nacional que sabia da irregularidade e que o avião teria
sido emprestado, o que foi rapidamente desmentido, já que não havia empréstimo.
Absurdamente, o pessoal do partido dela disse inicialmente que os documentos
que comprovariam a regularidade da compra estavam dentro do avião (!).Não é o
argumento perfeito para esconder qualquer coisa? A “nova política”, pelo jeito,
eleva o cinismo a níveis superiores aos da “velha política”. Além disso,
reportagem do Estadão mostrou que Campos, a quem Marina se aliou, enquanto era governador de Pernambuco havia favorecido o dono do helicóptero.
Para quem não se lembra, Marina fez
uma gestão medíocre no Ministério do Meio Ambiente. Os dados são conflitantes,
mas durante a sua gestão, ao que tudo indica, a Amazônia teve recordes
sucessivos de desmatamento, o que só foi corrigido com a sua substituição pelo
Ministro Carlos Minc. Falando em má-gestão, por que será que Marina ficou em
terceiro lugar na última eleição presidencial justamente em seu berço
eleitoral, o Acre? Quem conhece mais de perto parece não recomendar.
Sobre o fato, em si, dela ser
evangélica, não há nenhum problema. Mesmo. O problema, na verdade, começa
quando ela mistura política e religião, como se o estado brasileiro não fosse
laico. Ela é, por exemplo, contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo e
contra estudos com células tronco, mas a favor da isenção tributária às igrejas
e templos religiosos. Aliás, embora ela hoje negue, já se pronunciou
favoravelmente ao ensino do criacionismo nas escolas, ao lado do evolucionismo,
como se a versão bíblica da origem do mundo e da vida tivesse algum tipo de
embasamento científico minimamente comparável ao da teoria darwiniana, que até
o Vaticano hoje em dia aceita. Ela chegou até a defender o racista, machista e
homofóbico Marco Feliciano, enquanto presidente da comissão de direitos
humanos, dizendo que ele estava sendo atacado apenas por ser evangélico, num
vitimismo muito bem planejado para comover os desatentos.
Em outras palavras, em relação aos
costumes e às leis moralistas que temos, se alguém deseja algum avanço, pode esquecer.
Ela sequer discutirá algum dia pautas progressistas como, para citar dois
exemplos, a legalização da interrupção voluntária da gravidez ou da maconha ou
qualquer outra droga hoje proibida. O cargo político mais importante do País
não pode ser ocupado por alguém que coloca a sua convicção religiosa pessoal
acima do interesse público.
Ainda: é muito difícil dar voto a
quem, pouco depois da morte de seu companheiro de chapa, afirma que foi salva
por “providência divina”... Meio estranho a providência não ter simplesmente
salvado Eduardo Campos e ela da morte, e não apenas ela. Apesar de entender a
ambigüidade da declaração, contar com a providência divina não é um perfil
especialmente adequado para um Chefe de Estado e de Governo. E quem acompanha o
noticiário sabe que ela não perde a oportunidade de aproveitar-se da morte de
seu companheiro como isca de voto.
Como se não bastasse, reiteradas vezes ela já mencionou que é a favor a legislar sobre direitos humanos via plebiscito. Isso seria um completo desastre do ponto de vista da proteção às minorias e aos desassistidos. No Brasil, infelizmente, pouquíssima gente sabe o que são realmente os direitos humanos, seguramente a maior conquista da humanidade de todos os tempos, qual a sua origem e importância para a paz social. Levar isso a consulta popular é jogar os tudo isso no lixo, porque a noção que as pessoas têm sobre esses direitos é aquela fascista trazida pela grande mídia, de que "direitos humanos só protege bandido". Uma candidata que nega dessa maneira os direitos humanos e a dignidade humana não merece o voto de ninguém. Interessante é que ela não quer fazer consulta popular a respeito da isenção de impostos para igrejas...
Como se não bastasse, reiteradas vezes ela já mencionou que é a favor a legislar sobre direitos humanos via plebiscito. Isso seria um completo desastre do ponto de vista da proteção às minorias e aos desassistidos. No Brasil, infelizmente, pouquíssima gente sabe o que são realmente os direitos humanos, seguramente a maior conquista da humanidade de todos os tempos, qual a sua origem e importância para a paz social. Levar isso a consulta popular é jogar os tudo isso no lixo, porque a noção que as pessoas têm sobre esses direitos é aquela fascista trazida pela grande mídia, de que "direitos humanos só protege bandido". Uma candidata que nega dessa maneira os direitos humanos e a dignidade humana não merece o voto de ninguém. Interessante é que ela não quer fazer consulta popular a respeito da isenção de impostos para igrejas...
Recentemente ela disse que pretende
adotar a "autonomia" do Banco Central. Parece uma declaração
inofensiva, mas, traduzindo, ela assumiu de vez sua ideologia NEOLIBERAL, uma
vez que bancos centrais autônomos são desvinculados da política do governo,
mas, em contrapartida, vinculados às vontades das grandes empresas, dos banqueiros,
dos bilionários, do mercado, do capital. Ou seja, é uma autonomia em relação ao
povo; mas quem decide sobre a política econômica serão as elites, às quais
Marina declarou seu incondicional amor no debate da Band (além de ter dito que
o Brasil precisa de mais elite e que Chico Mendes, que deve ter virado
cambalhotas no túmulo, era parte da elite).
Sua coordenadora de campanha é uma
herdeira e sócia do Banco Itaú, Neca Setúbal. Justo Marina, que antes dizia que
bancos eram “vorazes por lucro” e “não tinham nenhum compromisso com o povo”. E
precisava ser justo do Itaú, que deve R$ 18 bi (mais de 4 vezes o gasto público
federal com arenas da Copa) em impostos? Que forte interesse uma banqueira tem
nas eleições, senão o de garantir que seu banco vai lucrar ainda mais, às
custas do trabalho do povo? Como alguém escreveu, os jovens que foram às ruas
em junho de 2013 contra os bancos vão votar na candidatura do Itaú?
Para completar, ela tem em sua equipe econômica políticos neoliberais declarados, como André
Lara Resende, que sugeriu ao Collor que confiscasse a poupança popular e foi ligado ao PSDB na época de FHC, tendo, inclusive, participação nas privatizações, e Eduardo Giannetti da Fonseca.
Este último disse recentemente que alunos de universidades públicas devem pagar
mensalidades (o que indica a sanha de privatização) e que a Unicamp é fruto da
ditadura, unicamente porque a Faculdade de Economia segue, em regra, uma escola
de pensamento econômico diferente do (neo)liberalismo.
Para quem não sabe, neoliberalismo
econômico é a doutrina que FHC seguia, do Estado Mínimo, que resultou em desemprego, inflação alta,
juros altos, leis trabalhistas e direitos previdenciários revogados, salários
reduzidos, empresas falindo e formação de monopólios, privatizações
desastrosas, poucos e desprezíveis programas sociais. Por isso é perfeitamente
possível dizer que Marina muito pouco se diferencia de Aécio Neves nesse ponto,
que na verdade talvez seja o principal a ser levado em conta numa escolha
política.
Por fim, e essa questão realmente me
intriga: como é possível uma candidata que pretende impedir que o Estado intervenha
na economia se dizer a favor da ecologia e da tão repetida “sustentabilidade”,
se apenas o Estado pode adotar políticas que impeçam as empresas de destruir e
degradar o meio-ambiente? As empresas, por si mesmas, vão deixar de poluir e respeitar a natureza? Isso ela não explicou, mas "neoliberalismo
ecológico" é um exemplo de contradição em termos, um paradoxo, um oxímoro.
Aliás, Marina é contra os transgênicos, seu vice, é a favor, e o interlocutor
direto dela com o agronegócio, João Paulo Capobianco, disse recentemente,
nessas palavras: "não somos contra, nem a favor aos transgênicos".
Bela posição. Pelo menos combina com o “nem direita, nem esquerda”.
Sim, “nem contra, nem a favor”, “nem
direita, nem esquerda”, “nem pra trás, muito menos pra frente”, apenas o poder
pelo poder, a “boa” e velha política, pintada de verde para parecer nova, mas
passada de podre por dentro.